Joaquim da Silva Rabelo, depois Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo, popularmente conhecido como Frei Caneca, nasceu em 20 de agosto de 1779, na região do Recife denominada de Fora de Portas, onde também foi criado. Frei Caneca foi uma das importantes vozes que se levantaram naqueles tumultuados anos do período após a independência.

Filho de um tanoeiro (aquele que produz tonéis) português, de origem humilde, encontrou nas ordens religiosas, instaladas no Recife, uma via segura de promoção social. Foi admitido como noviço no Convento do Carmo, no Recife, tomando hábito em 08 de outubro de 1796 e destacando-se depois em diversas funções.

Tinha 22 anos de idade quando se ordenou em 1801, passando a se chamar Frei Joaquim do Amor Divino, ou pelo apelido de Frei Caneca, uma referência ao ofício do pai. Foi contemporâneo da instalação do Seminário de Olinda, em 1800, passando a frequentar o lugar.

Erudito e de saber enciclopédico, tinha conhecimentos adquiridos nas leituras realizadas na biblioteca do Carmo e na extraordinária coleção de livros da Congregação do Oratório do Recife.

O espírito revolucionário de Frei Caneca

As primeiras referências ao seu nome na agitada vida política pernambucana remontam aos eventos da Revolução de 1817. Apesar de manter relações com muitos revolucionários, desde os tempos do Seminário de Olinda, não há referências exatas da participação de Caneca na sedição de 06 de março ou mesmo na formação do governo provisório.

Seu nome aparece nas últimas semanas da revolução, quando acompanhou o exército republicano que marchava para o sul da província para enfrentar as tropas do Conde dos Arcos. Teria exercido a função de capitão de guerrilhas, segundo as acusações.

Preso, Frei Caneca ficou no cárcere na Bahia, retornando a Pernambuco em 1821, quando outro movimento político estava acontecendo. Ele apoiou a primeira Junta Governativa de Pernambuco, sob a presidência de Gervásio Pires Ferreira. Quando essa junta foi substituída pela chamada “Junta dos Matutos”, ele passou para a oposição.

Com a independência, fez votos de que a nova nação tivesse uma monarquia constitucional, fugindo de qualquer tendência absolutista. A desilusão veio com o fechamento da Assembleia Constituinte em 1823. Nesse mesmo ano, com a subida do governo dissidente chefiado por Manuel de Carvalho Paes de Andrade, passou a colaborar abertamente, voltando a sua atividade jornalística e, esporadicamente, dando seu parecer sobre algumas decisões tomadas pelo governo.

O intelectual e o ativista político

Frei Caneca tinha se transformado em um intelectual refinado, em um vigoroso ativista político. No dia 25 de dezembro de 1823, teve início a publicação do seu jornal Typhis Pernambucano, que circulou até 12 de agosto de 1824 (foram ao todo 29 números). Passou a denunciar o fechamento da Assembleia Constituinte e tecer uma série de críticas às medidas centralizadoras de Dom Pedro I.

Nos seus escritos, é possível perceber o profundo conhecimento das doutrinas políticas dominantes no período. A produção de Frei Caneca envolve inúmeros escritos. Infelizmente, pode ter ocorrido, ao longo do tempo, a perda de alguns trabalhos de sua autoria.

Apontava que “estamos sim independentes, mas não constituídos”, pelo fato da então nação estava sob regimento de uma constituição que fugia dos padrões liberais da época, com a existência, inclusive, do Poder Moderador que dava grandes poderes ao então imperador Dom Pedro I.

Prisão, condenação e morte

Frei Caneca foi um dos poucos líderes que não se renderam de imediato às tropas do general Lima e Silva. Empregou marcha pelo interior da província, passando pela Paraíba e pelo Ceará, tentando arregimentar pessoas para a causa confederada e manter a resistência. Foi preso e condenado pelo tribunal militar, em rápido julgamento.

Ele acabou arcabuzado, uma espécie de fuzilamento, em 13 de janeiro de 1825, nos muros do forte das Cinco Pontas. Apesar do final de sua vida ter sido como condenado, não mostrava arrependimento. No dia do ato de sua execução, chama a atenção que várias pessoas se recusaram a ser o carrasco do frade, sendo o pelotão do Exército obrigado a cumprir a sentença que havia sido imposta.

Frei Caneca e a literatura

Em um poema seu, denominado de “Marília”, Frei Caneca relatou que “Entre Marília e a pátria, Coloquei meu coração: A pátria roubou-m’o todo; Marília que chore em vão”. Sua obra política tem um valor inesgotável. Em 1875, cinquenta anos depois de sua morte, foram publicadas suas obras políticas e literárias, poesias e produções didáticas.

Confira o poema “Marília” na íntegra:

Entre Marília e a pátria
Coloquei meu coração:
A pátria roubou-m’o todo;
Marília que chore em vão.

Quem passa a vida que eu passo,
Não deve a morte temer;
Com a morte não se assusta
Quem está sempre a morrer.

A medonha catadura
Da morte feia e cruel,
Do rosto só muda a cor
Da pátria ao filho infiel.

Tem fim a vida daquele
Que a pátria não soube amar;
A vida do patriota
Não pode o tempo acabar.

O servil acaba inglório
Da existência a curta idade;
Mas não morre o liberal,
Vive toda a eternidade.