A origem do carnaval no Brasil tem raízes principalmente europeias, mas foi enriquecida por influências africanas e indígenas ao longo do tempo. A celebração carnavalesca remonta ao período colonial, trazida pelos portugueses na forma do entrudo, uma festa popular que também recebeu contribuições das mascaradas italianas.
No início do século XX, elementos africanos foram incorporados, agregando singularidade e diversidade à festa, que se tornou uma expressão cultural única no mundo.
As origens das festas de rua
O entrudo chegou ao Rio de Janeiro em 1641. O termo, derivado do latim “introitus”, significa “entrada” ou “início”, e era usado pela Igreja Católica para marcar o começo das celebrações da Quaresma. No entanto, as festividades do entrudo já existiam antes do Cristianismo, sendo realizadas na mesma época do ano para celebrar o início da primavera.
Com o domínio da Igreja Católica na Era Cristã, o entrudo foi incorporado ao calendário religioso, ocorrendo entre o Sábado Gordo e a Quarta-feira de Cinzas.
Em Portugal e no Brasil, o carnaval não se parecia com as festas renascentistas da Itália. Era uma brincadeira de rua, muitas vezes violenta, que incluía brincadeiras como jogar água, ovos, farinha e outros materiais nas pessoas. Escravizados também participavam dessas brincadeiras, enquanto as famílias brancas se divertiam jogando baldes de água suja em transeuntes desavisados.
As divisões sociais
Em meados do século XIX, no Rio de Janeiro, o entrudo começou a ser criminalizado, especialmente após uma campanha da imprensa contra essa manifestação popular. Enquanto isso, a elite do Império organizava bailes de carnaval em clubes e teatros, onde se dançava principalmente polcas.
As camadas populares, no entanto, não abandonaram suas tradições. No final do século XIX, surgiram os cordões e ranchos, adaptações das práticas carnavalescas que incorporavam elementos como procissões religiosas, capoeira e música tocada em grandes bumbos. Os ranchos, por sua vez, eram cortejos influenciados por tradições rurais.
O carnaval moderno
As marchinhas de carnaval surgiram no século XIX, com destaque para Chiquinha Gonzaga e sua famosa música “O Abre-alas”. O samba, que se tornaria o símbolo musical do carnaval brasileiro, surgiu por volta da década de 1910, com a música “Pelo Telefone”, de Donga e Mauro de Almeida.
O trio elétrico na Bahia
Na Bahia, os afoxés emergiram no final do século XIX e início do XX, buscando resgatar tradições culturais africanas. Grupos como o Embaixada Africana e os Pândegos da África foram pioneiros. No Recife, o frevo e o maracatu ganharam destaque, enquanto o carnaval se popularizava em todo o país.
Em 1950, em Salvador, Dodô e Osmar criaram o trio elétrico ao adaptar um caminhão para carregar instrumentos musicais amplificados, desfilando pelas ruas da cidade. O sucesso foi imediato, e o nome “trio elétrico” foi oficializado no ano seguinte. Em 1979, Morais Moreira incorporou o batuque dos afoxés ao trio elétrico, consolidando-o como um dos pilares do carnaval baiano e inspirando sua adoção em outras partes do Brasil.
As escolas de samba no Rio de Janeiro
A partir da década de 1960, as escolas de samba do Rio de Janeiro tornaram-se um importante fenômeno cultural e comercial. Empresários, incluindo figuras ligadas ao jogo do bicho, começaram a investir nos desfiles. A Prefeitura do Rio passou a organizar arquibancadas na Avenida Rio Branco e a cobrar ingressos para assistir aos desfiles. Em São Paulo, as escolas de samba também ganharam destaque nesse período.
Em 1984, foi inaugurada no Rio de Janeiro a Passarela do Samba, conhecida como Sambódromo, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer durante o governo de Leonel Brizola. O Sambódromo tornou-se um ícone do carnaval brasileiro, consolidando o desfile das escolas de samba como uma das maiores manifestações culturais do país.
Ao longo do século XX, o carnaval brasileiro evoluiu, incorporando diversas expressões culturais e tornando-se uma celebração única, que reflete a diversidade e a criatividade do povo brasileiro.