Em 21 de junho de 1839, Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, filho de uma família pobre. Mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. De acordo com importantes estudiosos, críticos, escritores e leitores, Machado de Assis é considerado o maior nome da literatura brasileira. Sua produção literária abrangeu praticamente todos os gêneros, incluindo poesia, romance, crônica, dramaturgia, conto, folhetim, jornalismo e crítica literária.
Machado casou-se com a portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, no dia 12 de Novembro de 1869. Mais tarde, os dois foram morar na casa nº 18, Rua Cosme Velho, onde ficariam até a morte. Do nome da rua surgiu o apelido “Bruxo do Cosme Velho”, dado por conta de um episódio em que Machado queimava suas cartas em um caldeirão, no sobrado da casa, quando a vizinhança certa vez o viu e gritou: “Olha o Bruxo do Cosme Velho!”. Essa história, para alguns biógrafos, não passa de lenda.
Machado de Assis e a dor com a perda de Dona Carolina
Em 20 de outubro de 1904, Carolina morre aos 70 anos de idade. Foi um baque na vida de Machado, que passou uma temporada em Nova Friburgo. De acordo com o biógrafo Daniel Piza, Carolina comentava com amigas que Machado deveria morrer antes para não sofrer caso ela partisse cedo. Segundo alguns biógrafos, o túmulo de Carolina era visitado todos os domingos por Machado.
Em carta escrita no dia 20 de novembro de 1904 para o amigo Joaquim Nabuco, Machado assumiu: “Foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo”. Abatido e solitário, em homenagem à amada redigiu o soneto Carolina, que pertence ao livro Relíquias de Casa Velha (1906), última obra publicada pelo autor.
Machado de Assis e as letras
A primeira publicação de Machado não foi como autor, mas sim como tradutor. Ele assinou a tradução de Queda que as mulheres têm para os tolos, impresso pela tipografia de Paula Brito em 1861. Como autor, o seu primeiro livro lançado foi a reunião de poesias Crisálidas, publicado em 1864.
O primeiro romance, por sua vez, foi Ressurreição (1872), que logo chamou a atenção do público e da crítica. Em paralelo, Machado continuava escrevendo seus contos, artigos e críticas literárias e teatrais.
No ano a seguir da publicação do primeiro romance, Machado foi nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, tornando-se assim funcionário público, o que lhe garantiu a subsistência até o fim da vida.
As obras de Machado percorrem todos os gêneros literários e costuma-se dizer que não devem ser aprisionadas em um só movimento estético: Machado é maior do que todos eles. Os seus livros se tornaram clássicos da literatura brasileira, consagrando o autor como um dos maiores nomes da cultura lusófona. Entre as suas principais obras estão:
- Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880)
- Quincas Borba (1891)
- Dom Casmurro (1899)
- Esaú e Jacó (1904)
- Memorial de Aires (1908)
A academia Brasileira de Letras
Em 28 de janeiro de 1897, escritores e intelectuais, inspirados na ideia da Academia Francesa, fundaram a Academia Brasileira de Letras, cujo primeiro presidente foi Machado de Assis. Ele ocupou o cargo que ocupou por mais de dez anos. Machado continuava lendo, estudando, escrevendo, continuou participando de rodas de amigos e banquetes da elite carioca como homem público, embora de forma mais rara, trabalhando como diretor-geral do Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas e participando ativamente também das sessões da Academia Brasileira de Letras, por ele presidida.
O escritor proferiu um discurso na sessão inaugural, no dia 20 de julho de 1897, ao empossar-se Presidente. Na fala, discorreu sobre a origem da criação da instituição:
“Não é preciso definir esta instituição. Iniciada por um moço, aceita e completada por moços, a Academia nasce com a alma nova, naturalmente ambiciosa. O vosso desejo é conservar, no meio da federação política, a unidade literária. Tal obra exige, não só a compreensão pública, mas ainda e principalmente a vossa constância. A Academia Francesa, pela qual esta se modelou, sobrevive aos acontecimentos de toda casta, às escolas literárias e às transformações civis. A vossa há de querer ter as mesmas feições de estabilidade e progresso”.
Os últimos dias do grande escritor
Na madrugada do dia 29 de setembro de 1908, Machado de Assis agonizava, cercado por Mario de Alencar, José Veríssimo, Euclides da Cunha, Coelho Neto, Raimundo Correia e Rodrigo Otávio, seus companheiros mais chegados. Consta como causa da sua morte uma lesão neoplásica em sua língua. Foi decretado luto oficial no país. Seu corpo foi velado na Academia Brasileira de Letras e teve Rui Barbosa como orador da despedida: “Era uma sua alma um vaso de amenidade e melancolia”.
Euclides da Cunha, jornalista e romancista, eleito para a ABL em 1903, conta em seu artigo A última visita como foram os momentos finais em volta do mestre:
Mas aquela placidez augusta [de Machado no leito de morte] despertava na sala principal, onde se reuniam Coelho Neto, Graça Aranha, Mário de Alencar, José Veríssimo, Raimundo Correia e Rodrigo Octavio, comentários divergentes. Resumia-os um amargo desapontamento. De um modo geral, não se compreendia que uma vida que tanto viveu as outras vidas, assimilando-as através de análises sutilíssimas, para no-las transfigurar e ampliar, amorfoseadas em sínteses radiosas –, que uma vida de tal porte desaparecesse no meio de tamanha indiferença, num círculo limitadíssimo de corações amigos. […] Nesse momento, precisamente ao enunciar-se esse juízo desalentado, ouviram-se umas tímidas pancadas na porta principal da entrada. Abriram-na. Apareceu um desconhecido, um adolescente de dezesseis ou dezoito anos no máximo. […] Não disse uma palavra. Ajoelhou-se. Tomou a mão do mestre; beijou-a num belo gesto de carinho filial. Aconchegou-o depois por algum tempo ao peito. Levantou-se e, sem dizer palavra, saiu. […] Pelos nossos olhos passara a impressão visual da Posteridade.
A partir das 19h30min, o velório passou para o Silogeu, a então sede da Academia Brasileira de Letras. Admiradores, autoridades políticas e acadêmicos juntaram-se para as homenagens, que seguiram até as 16h do dia seguinte, quando começou o sepultamento.