Baseado numa história verídica do Portugal medieval, o mito de Pedro I e Inês de Castro tem de tudo, desde o apaixonado amor juvenil até à coroação de um cadáver. Segundo a crônica escrita por volta de 1440 pelo historiador português Fernão Lopes, cerca de 100 anos antes, o Infante Dom Pedro I apaixonou-se por Inês de Castro, que era dama de companhia da sua mulher e cujo pai era um fidalgo espanhol.
O pai de Pedro, o rei português Afonso IV, não aprovou este amor e exilou Inês. Mas após a morte da mulher de Pedro, a exilada regressou a Portugal, reencontrou o amante e tiveram quatro filhos.
A tragédia de Inês de Castro
Dom Afonso e os seus conselheiros continuaram a discordar desta união. Em 1355, decidiram que a presença de Inês era um risco político demasiado grande para a linhagem real portuguesa e mandaram matá-la. Ela foi enterrada na cidade de Coimbra enquanto Pedro jurava vingança.
O príncipe liderou uma revolta contra o seu pai, iniciando uma guerra civil em Portugal. Quando Pedro subiu ao trono, após a morte de Afonso em 1357, procurou os dois assassinos da sua amada e arrancou-lhes o coração.
A reação de Pedro I
Pedro também jurou fazer de Inês rainha de Portugal, mesmo na morte. Em 1360, vários anos após o seu assassinato, desenterrou o corpo em decomposição de Inês e transportou-o em procissão de Coimbra até Alcobaça, onde foi sepultado à maneira real, para poder sempre descansar à sua frente.
A história é terrível e surpreendente, mas quando foi transformada em um mito amplamente divulgado, tornou-se ainda mais sombria, e o final assustador da história foi expandido para incluir uma visão mais literal da ideia de coroar uma rainha morta. A triste história de amor foi incluída por Camões no seu “Os Lusíadas”.
“As filhas do Mondego, a morte escura
Longo tempo chorando memoraram
E por memória eterna em fonte pura
As Lágrimas choradas transformaram
O nome lhe puseram que ainda dura
Dos amores de Inês que ali passaram
Vede que fresca fonte rega as flores
Que as Lágrimas são água e o nome amores”
Os Lusíadas, canto III.