Durante séculos, a lenda do Papa Joannes Anglicus, também conhecido como Papisa Joana, capturou a imaginação de estudiosos e leigos. De acordo com alguns relatos, a Joana foi a única mulher na história que se disfarçou de homem para ascender ao papado. No entanto, outras fontes negam completamente a sua existência.

As origens e popularidade história

A referência mais antiga conhecida à Papisa Joana pode ser encontrada na crônica do frade dominicano Jean de Mailly, escrita no século XIII. De acordo com seu relato, uma mulher chamada Joana se disfarçou de homem e subiu na hierarquia da igreja para se tornar papa.

No entanto, durante uma procissão por Roma, ela entrou em trabalho de parto e deu à luz na rua, revelando sua verdadeira identidade aos espectadores horrorizados. Ela foi posteriormente arrastada e apedrejada até a morte.

A história rapidamente ganhou popularidade por toda a Europa, e vários relatos de sua vida e morte foram escritos nos séculos seguintes. Algumas versões da história retratam Joana como uma estudiosa brilhante e líder carismática, enquanto outras como uma mulher perversa e apaixonada que trouxe vergonha ao papado. Apesar das discrepâncias nesses relatos, a lenda da Papisa Joana continuou a capturar a imaginação do público.

O que dizem os estudiosos?

No século XVI, escritores protestantes começaram a questionar a veracidade da história, argumentando que era uma invenção criada pelos inimigos da Igreja Católica para desacreditar o papado. Eles apontaram para a falta de evidências contemporâneas da existência da Papisa Joana e as inconsistências nos vários relatos de sua vida.

Alguns historiadores argumentam que é possível que uma mulher tenha se disfarçado de homem e subido na hierarquia da igreja no início da Idade Média. Outros apontam para o clima político da época, que era marcado por lutas de poder e intrigas, como uma possível explicação para a criação da lenda.

As menções à Papisa Joana

Papisa Joana: uma mulher assumiu o trono de Pedro?

Um dos primeiros e mais detalhados relatos da Papisa Joana vem do Chronicon Pontificum et Imperatorum, uma crônica medieval que data do início do século XIII. A crônica foi escrita por um autor anônimo e cobre o período da criação do mundo até o ano de 1252. Ela inclui um relato detalhado do suposto reinado da Papisa Joana, que é descrita como uma mulher que se disfarçou de homem e se tornou papa.

De acordo com o Chronicon, a Papisa Joana nasceu em Mainz, Alemanha, e foi educada em Atenas antes de viajar para Roma disfarçada de homem. Ela eventualmente subiu na hierarquia da igreja e foi eleita papa, tomando o nome de Joannes Anglicus. Ela reinou por vários anos antes que seu verdadeiro gênero fosse revelado durante uma procissão quando ela deu à luz uma criança.

O relato no Chronicon é um dos mais detalhados e abrangentes do reinado da Papisa Joana, e inclui uma série de anedotas e detalhes sobre sua vida e papado. O autor da crônica cita várias fontes históricas, incluindo o Liber Pontificalis, uma coleção de biografias dos papas que remonta ao século VI.

Embora o relato no Chronicon seja frequentemente citado como evidência da existência da Papisa Joana, é importante notar que a crônica foi escrita séculos após o suposto reinado. Além disso, o autor da crônica é desconhecido, e o relato pode ser baseado em fontes anteriores que foram perdidas ou destruídas.

O afresco na Catedral de Siena

O afresco na Catedral de Siena, na Itália, é uma das peças de evidência mais significativas no debate em torno da existência da Papisa Joana. A arte, que remonta ao século XIV, retrata uma papisa sentada em um trono, usando a tiara e carregando a cruz papal. Ela está cercada por cardeais, e a inscrição no afresco diz “Johannes VIII, Femina ex Anglia” (João VIII, uma inglesa).

Enquanto alguns estudiosos argumentam que o afresco pode ser uma referência a outro papa ou uma alegoria, outros o veem como evidência de que a Papisa Joana existiu. O fato de o afresco ter sido restaurado várias vezes ao longo dos séculos torna difícil determinar se a inscrição é original ou se foi adicionada posteriormente. No entanto, a inscrição ainda é visível hoje, e foi citada por alguns como prova de que a Papisa Joana foi uma figura histórica.

O afresco da Catedral de Siena não é a única obra de arte que retrata uma papisa. Há também várias outras obras, incluindo manuscritos e xilogravuras, que mostram uma papisa, às vezes chamada de Papa Johanna. No entanto, o afresco da Catedral de Siena é talvez a peça de evidência mais significativa, pois é o único que se refere especificamente a esse personagem.

As inconsistências sobre a Papisa Joana

Inconsistências nos vários relatos da vida e do reinado da Papisa Joana são outro fator significativo que enfraquece a história de sua existência. Enquanto a narrativa básica de uma papisa que se disfarçou de homem e ascendeu ao papado permanece a mesma em diferentes versões da lenda, os detalhes e especificidades de sua história variam amplamente dependendo da fonte.

Algumas versões da história colocam o papado da Papisa Joana no século IX, especificamente entre os anos de 855 e 858, durante o reinado do Papa Leão IV. No entanto, outras fontes sugerem que ela viveu muito mais tarde, durante os séculos XI ou XII. Essas datas posteriores colocariam seu papado várias centenas de anos após o reinado de Leão IV e levantariam questões sobre como ela poderia ter sido esquecida por fontes contemporâneas.

Outra inconsistência na lenda da Papisa Joana são os vários locais atribuídos ao seu papado. Enquanto alguns relatos sugerem que ela reinou em Roma, outros colocam seu governo na Alemanha ou na França. Isso levanta questões sobre a legitimidade de seu suposto papado, já que o papa é tradicionalmente visto como o bispo de Roma e o chefe da Igreja Católica Romana.