HiperHistóriaHistóriaAs mortes mais bizarras da Antiguidade

As mortes mais bizarras da Antiguidade

Ao longo da história, a morte sempre foi cercada de mistérios, medos e, em alguns casos, bizarrices. Na Antiguidade, em meio a guerras, rituais religiosos e acidentes improváveis, alguns personagens encontraram fins tão inusitados que parecem saídos de uma obra de ficção. De imperadores mortos por animais a filósofos que sucumbiram a experimentos insanos, essas histórias revelam um lado curioso — e muitas vezes macabro — do passado humano. Nesta matéria, conheça algumas das mortes mais estranhas já registradas no mundo antigo.

A tragédia de Ésquilo

Ésquilo, dramaturgo grego considerado o pai da tragédia, teve uma morte tão insólita que parece saída de uma peça cômica. Segundo relatos antigos, particularmente de Valério Máximo e Plínio, o Velho, Ésquilo morreu por volta de 456 a.C. quando uma águia deixou cair uma tartaruga sobre sua cabeça. As águias costumavam caçar tartarugas e jogá-las sobre rochas para quebrar o casco — mas, no caso, confundiu a cabeça calva de Ésquilo com uma pedra.

O impacto teria sido fatal. A ironia é ainda maior ao se saber que o dramaturgo passava um tempo fora da cidade exatamente para evitar uma profecia que dizia que morreria por algo que “cairia do céu”. Sua morte foi registrada por autores romanos como exemplo de destino inescapável. Assim, Ésquilo não apenas moldou o teatro ocidental como protagonizou uma das mortes mais surreais e lembradas da Antiguidade.

Creso e a fogueira

Creso, último rei da Lídia, teve um fim trágico e filosoficamente irônico. Segundo a lenda contada por Heródoto, Creso foi capturado pelo rei persa Ciro, o Grande, após a queda de sua capital, Sardes, no século VI a.C. Condenado a ser queimado vivo, Creso teria invocado o nome de Sólon, um sábio ateniense que o advertira anos antes sobre a inconstância da fortuna.

Impressionado pela reflexão filosófica em meio às chamas, Ciro ordenou que apagassem o fogo — mas já era tarde demais. Algumas versões dizem que um súbito temporal salvou Creso; outras, que ele morreu carbonizado.

A curiosidade está na forma como sua morte ou quase-morte virou símbolo da fragilidade do poder e da riqueza, ecoando os ensinamentos estoicos antes mesmo de sua formulação. A história de Creso mistura fato e lenda, mas continua sendo uma das mais emblemáticas da Antiguidade sobre orgulho, destino e redenção.

A vaidade de Empédocles

Empédocles de Agrigento, filósofo e místico pré-socrático do século V a.C., é lembrado tanto por suas ideias quanto por sua morte lendária. Ele acreditava ser um semideus e queria provar sua imortalidade. Segundo a tradição, lançou-se voluntariamente dentro do vulcão Etna, esperando desaparecer sem deixar vestígios e ser venerado como divino.

No entanto, o plano deu errado: o vulcão teria cuspido de volta uma de suas sandálias de bronze, revelando sua morte. A história, contada por autores como Diógenes Laércio, tornou-se símbolo do limite entre arrogância e loucura. Embora muitos historiadores questionem a veracidade do relato, a narrativa permaneceu viva por séculos como um alerta contra a vaidade humana.

Curiosamente, Empédocles também foi pioneiro em teorias sobre os quatro elementos — fogo, água, terra e ar — e talvez tenha escolhido o fogo como sua “ascensão final”. Sua morte virou uma das mais poéticas e trágicas da história antiga.

A “bela” morte de Draco

Draco de Atenas, o primeiro legislador da cidade, é conhecido pela severidade de suas leis, que originaram o termo “draconiano”. Mas sua morte, por volta do século VII a.C., também entrou para os anais da bizarrice. Segundo relatos antigos, Draco foi sufocado até a morte… por aplausos! Durante uma apresentação pública em um teatro, os cidadãos, em sinal de reverência, começaram a lançar seus mantos e capas sobre ele — um costume de honra entre os gregos.

A quantidade de roupas foi tão grande que Draco acabou sendo soterrado e morreu asfixiado no meio do gesto de admiração. Ironicamente, o autor de leis impiedosas teve um fim causado não por violência, mas por excesso de carinho. Essa história é um exemplo curioso de como a popularidade pode, literalmente, sufocar — e como a Antiguidade está repleta de mortes que misturam tragédia, ironia e absurdo em doses épicas.

A morte de Mitrídates

A morte de Mitrídates VI Eupátor, rei do Ponto (região que hoje corresponde ao norte da Turquia), foi tão dramática quanto sua vida — marcada por guerras contra Roma, traições familiares e obsessão com venenos. Ele governou entre 120 e 63 a.C. e ficou famoso por sua resistência ao domínio romano e, sobretudo, por seu temor constante de ser envenenado.

Para se proteger, Mitrídates tomou pequenas doses de diversos venenos durante anos, numa prática que mais tarde originaria o termo mitridatismo — a imunização progressiva contra substâncias tóxicas. Sua morte, porém, tem um toque irônico. Após ser traído pelo filho e ver seu reino desmoronar, tentou cometer suicídio por envenenamento.

Porém, segundo relatos de autores como Plutarco e Apiano, seu corpo já era tão resistente aos venenos que eles não surtiram efeito. Desesperado, pediu a um guarda para matá-lo com a espada. Assim, o rei que dedicou a vida a desafiar venenos acabou morrendo pela lâmina.

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