Margarida Primeira da Dinamarca foi uma das figuras mais notáveis da história escandinava medieval. Filha do rei Valdemar IV da Dinamarca, ela foi prometida ainda criança ao rei Haakon VI da Noruega, com quem se casou aos dez anos, consolidando uma aliança entre os dois reinos. Após a morte de seu pai em 1375, Margarida manobrou politicamente para garantir que seu filho Olavo fosse eleito rei da Dinamarca, mesmo sendo menor de idade.
Com a morte do marido em 1380, ela também passou a governar a Noruega em nome do filho. Em poucos anos, Margarida tornou-se a figura central do poder nos dois reinos, governando de fato mesmo após a ascensão oficial do jovem rei. Sua habilidade diplomática e política garantiu a estabilidade dos tronos e a manutenção de sua influência como regente durante a juventude de Olavo, que morreu prematuramente em 1387.
O poder de Margarida I
Com a morte de Olavo, Margarida enfrentou o desafio de manter seu domínio sem um herdeiro direto. A nobreza dinamarquesa, porém, reconhecendo sua competência, a proclamou “Senhora e Guardiã do Reino”. A Noruega seguiu o exemplo e a confirmou como governante. Pouco depois, a Suécia, então em crise interna devido à impopularidade do rei Alberto de Mecklemburgo, solicitou sua ajuda.
Margarida invadiu o país, derrotou Alberto em 1389 e assumiu também o controle da Suécia. Assim, ela se tornou a soberana dos três maiores reinos escandinavos — Dinamarca, Noruega e Suécia — embora evitasse o título de “rainha”, preferindo manter-se como “Senhora e Guardiã”. Seu governo unificado foi marcado por habilidade administrativa e por uma visão estratégica de longo prazo, que visava consolidar a paz e a cooperação entre os povos nórdicos.
O maior legado de Margarida Primeira foi a fundação da União de Kalmar em 1397. Esta união dinástica reuniu formalmente os três reinos sob um único monarca, embora cada reino mantivesse suas próprias leis e instituições. Para garantir a continuidade do projeto, Margarida adotou seu sobrinho-neto Erik da Pomerânia e o colocou no trono das três coroas. Ainda que Erik fosse rei de nome, Margarida permaneceu como a verdadeira autoridade até sua morte.
A União de Kalmar
A União de Kalmar foi concebida como um esforço para enfrentar ameaças externas, sobretudo a Liga Hanseática e os estados germânicos, promovendo uma frente unificada na política europeia. Sua visão de um norte unido foi, durante décadas, sustentada por essa aliança, mesmo com tensões internas e conflitos que surgiriam posteriormente.
Margarida Primeira faleceu em 1412 durante uma viagem diplomática para negociar com os mercadores da Liga Hanseática. Sua morte encerrou uma era de liderança forte e estratégica. Reverenciada por sua sagacidade, coragem e capacidade de governar em um mundo dominado por homens, Margarida se destacou como uma das poucas mulheres medievais a controlar um império multinacional.
Apesar dos desafios constantes, ela conseguiu manter os três reinos relativamente unidos sob sua direção, estabelecendo um modelo de liderança visionária. A União de Kalmar perduraria, com altos e baixos, até o século XVI, sendo um testemunho duradouro do talento político de Margarida. Sua memória é honrada em toda a Escandinávia como símbolo de unidade e liderança feminina excepcional em uma era de turbulência.